Operação aconteceu em São Luís. Pesca e corte das barbatanas são proibidas no Brasil, mas a prática vem crescendo devido ao alto valor no mercado de 'sopas ostentação' em países asiáticos. Barbatanas de tubarão-azul foram apreendidas em São Luís
Divulgação/Receita Federal
Na manhã desta segunda-feira (30), a Receita Federal apreendeu, em São Luís, cerca de 185 kg de barbatanas de tubarão-azul (Prionace Glauca), que está ameaçada de extinção.
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A prática é conhecida como 'Shark finning', na qual tubarões são capturados e as nadadeiras, conhecidas popularmente como barbatanas, são capturados. Em seguida, na maioria das vezes, o animal é descartado vivo na água.
Segundo a Receita, a carga estava distribuída seis volumes e iram para a China, onde a barbatana do tubarão é considerada item de luxo em algumas 'sopas ostentação' que são consumidas por até 500 dólares o prato. O preço da barbatana, por quilo, pode chegar a três mil dólares no mercado mundial.
Tubarão-azul (Prionace Glauca) é considerada espécie em extinção
UFRGS/Mark Conlin/NMFS
No entanto, a pesca predatória do tubarão é considerada ilegal no Brasil, especialmente porque o objetivo é a retirada única e exclusiva das barbatanas.
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Na operação desta segunda (30), todo o material apreendido não possuía documentos que atestassem a legalidade, infringindo normas ambientais vigentes, segundo a Receita Federal.
Em São Luís, segundo as investigações, as barbatanas seriam dissecadas e depois iriam à China pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A carga foi entregue ao IBAMA e os alvos da operação poderão responder por crime ambiental.
Barbatanas de tubarão-azul foram apreendidas em São Luís
Divulgação/Receita Federal
Não é a primeira vez
Segundo a Receita Federal, essa é a 4ª ação relacionada com a apreensão de barbatanas de tubarão em menos de um mês, sendo que as outras foram realizadas Ceará, com cerca de 392 kg de barbatanas apreendidas em Cruz e em Fortaleza.
Já em janeiro deste ano, centenas de barbatanas de tubarão-martelo, espécie também ameaçada de extinção, foram flagradas em uma região do Porto de Raposa, cidade localizada na Região Metropolitana de São Luís (veja o vídeo abaixo).
Centenas de barbatanas são retiradas de tubarões e flagradas em porto no Maranhão
Nas imagens, divulgadas pelo vice-reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e pesquisador em Oceanografia, Leonardo Soares, as barbatanas aparecem na calçada do porto após terem sido retiradas das centenas de animais.
Ao g1, o Curso de Engenharia e Pesca da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) explicou que é possível que as barbatanas tenham sido colocadas para secar após terem sido retiradas dos tubarões. Geralmente a prática é feita em uma área restrita e fechada, diferente do flagrante, para não atrair curiosos e, em seguida, são comercializadas.
"Elas [as barbatanas] precisam ser secas, como foi registrado no vídeo e na foto. Elas estavam secando. Normalmente isso é feito em alguma área restrita ou fechada e nunca exposta como nessa situação [...] Os pescadores não gostam de expor as nadadeiras para não atrair curiosos. Em seguida são comercializadas", explicou a instituição.
Barbatanas de tubarões são flagradas 'secando' no Porto de Raposa, cidade no Maranhão
Leonardo Soares
Somente no Maranhão, pesquisadores apontam que a caça aos tubarões ocorrem há pelo menos 60 anos. As capturas aumentaram nas últimas quatro décadas, quando pescadores de outros estados do Brasil, encorajadas por comerciantes asiáticos, se mudaram para a região para iniciar o comércio.
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Tubarões são encontrados com sinais de mutilação nos portos
Arquivo/Jorge Luiz
Para os pesquisadores, além do desequilíbrio ecológico que pode acontecer pelo desaparecimento dos tubarões, a principal consequência da morte desses animais será uma grande perda de informações históricas. Porém, ainda resta instrução aos pescadores, que ainda não compreendem a importância de manter as espécies vivas na natureza.
Em 2017, o Ministério do Meio Ambiente chegou a assinar um Memorando de Entendimento sobre a Conservação dos Tubarões Migratórios na 12ª sessão da Conferência das Partes da Convenção sobre Espécies Migratórias, nas Filipinas.
Locais onde os tubarões são pescados e depois vendidos para compradores asiáticos
Divulgação/Plos One